Quando inscrevi minha filha no Balé, aos 5 anos, foi com muita vontade. Ela mostrou interesse e alegria no começo, mas no final do ano já não quis ir mais. Era aplicada em suas classes, mas não era algo que a atraísse realmente.
Quando criança, eu sonhava em ter aulas de balé, mas depois, na puberdade, conheci a dança do ventre, que me levou a percorrer o mundo inteiro durante três anos. Talvez seja por isso que, internamente, desejei que a minha filha também se sentisse atraída pela dança.
Pode ensiná-los a voar, mas não voarão seu voo
Os pais oferecem aos filhos um leque de possibilidades. Mas, mais cedo ou mais tarde, são eles mesmos que escolherão seu caminho. Quando matriculei a minha filha no balé, fiz isso pensando que talvez ela adorasse dançar como eu, mas a minha pequenina mostrou-me que o seu espírito é outro.
No ano seguinte, tentamos ginástica rítmica, e ela também não ficou muito entusiasmada. Vamos continuar tentando outra disciplina mais tarde, até encontrarmos o que ela gosta. Meu desejo é que ela se sinta bem e que faça o que a deixa feliz; agora em sua infância e para sempre em sua vida.
Nós, pais, ensinamos a voar, mas os nossos filhos não voarão nosso voo. Por mais que nos empenhemos em motivá-los a fazer aquilo que nos agrada, eles irão moldando suas personalidades e gostos, e devemos considerar essa vontade.
Motivar, sim; obrigar, jamais!
Conheço a história de um jovem cuja mãe e pai são advogados de sucesso. O primogênito foi quase forçado a estudar Direito. Seus pais lhe diziam que ele deveria ser advogado, pois teria todo um império já consolidado a seus pés. Mas ele gostava era de cozinhar.
Passaram-se os anos, e esse jovem precisava eliminar apenas duas matérias para tornar-se advogado. Mas algo o fez parar. Ele não somente não concluiu essas matérias e fechou para sempre a porta à advocacia, mas inscreveu-se em um curso de culinária. E o que acham? Hoje, é um dos chefs mais prestigiados de sua cidade.
Seus pais teriam adorado que seu filho fosse advogado; e, de fato, o viam como tal. Em suas mentes não havia outra possibilidade. Mas esqueceram-se de que essa criança foi crescendo com aspirações e desejos próprios, e um dia se deu conta de que queria construir sua própria identidade.
Observemos nossos filhos
Com suas ações, eles nos mostram desde bem pequenos do que é feita sua essência. Claro que os pais moldam, motivam e encorajam; mas cada um de nossos filhos é único e especial. E ainda que quiséssemos que fossem de determinada maneira ou que se dedicassem a determinada profissão, cada um conceberá o seu futuro em torno dos seus próprios interesses.
Observe seu filho. Olhe para ele enquanto brinca, na forma como observa a natureza, veja como ele observa em silêncio as formigas passarem. Deixe-o experimentar na cozinha, ou com ferramentas de jardinagem. Incentive-o a mostrar o que ele gosta de fazer.
Aos 8 anos, comecei a escrever um caderno onde expressava meus poemas, pensamentos e tudo o que me ocorresse. Minha mãe, que é contadora pública, jamais quis torcer minha vontade para que eu gostasse de números e matemática. O meu mundo eram as letras. E continua sendo. Agradeço tanto a minha mãe que me observou pacientemente e acompanhou meus desejos.
Como gostaria que fossem seus filhos?
Talvez os imagine grandes profissionais ou aventureiros. Talvez os imagine com uma grande família ou viajando pelo mundo por causa de sua profissão. Todos os pais querem que os filhos alcancem seus objetivos, e que cumpram seus mais fervorosos desejos na vida.
Mas há uma coisa que todos os pais do mundo têm em comum: queremos que eles sejam felizes. E isso implica nos despojar de todos aqueles desejos próprios que projetamos neles. Isso significa deixá-los ser o que são.
Enquanto isso, eduquemos em valores
Nossa missão mais importante é educar nossos filhos para que sejam boas pessoas, para que tenham valores altruístas na vida, e para que construam uma rede de afetos onde possam se apoiar quando nós já não estivermos. E tudo isso se consegue principalmente com o exemplo.
Por isso, amemos os nossos filhos todos os dias, tal como são. Abracemos mais, riamos mais com eles, brinquemos, deitemo-nos no chão, sejamos bombeiros, princesas e super-heróis. Vamos compreender a raiva deles e ajudá-los a dissipá-la de forma inteligente e saudável.
Não nos zanguemos por não terem as mesmas habilidades que temos, ou por não demonstrarem o mesmo interesse, que tínhamos na idade deles, por determinada coisa ou atividade. É maravilhoso descobrir que cada um dos nossos filhos pode surpreender-nos e podemos aprender muito com eles.
Demos a nossos filhos a voz que merecem. Nossas aspirações são nossas, não deles. Tomemos as nossas crianças pela mão e transitemos com elas os seus medos, os seus desejos mais íntimos e os seus sonhos mais profundos.
Vejamos nossos filhos como realmente são, e não como gostaríamos que fossem. Libertá-los de tal fardo os fará mais felizes e bem-sucedidos na vida. E isso, sem dúvida, será nossa maior alegria.
Fonte: Familia.com.br