Não menos importante do que tratar de um assunto tão relevante quanto o que ora nos propomos discutir, seria lembrarmos das ideias de Henri Wallon – médico, militante, psicólogo e filósofo francês –, que aludiam que o aluno, enquanto aprendiz, não representa apenas uma cabeça apta a apreensões, mas sim um ser complexo, constituído de corpo e sentimentos.
Partindo dessa prerrogativa, torna-se inegável que a família, assim como o grupo secundário com o qual o jovem convive (no caso representado pela escola), também se tornam coparticipantes de toda essa história, compartilhando com todas as consequências oriundas das transformações físicas e psíquicas que demarcam essa notória fase.
Tal etapa, ora demarcada pela transição da infância para a puberdade, incita no adolescente a descoberta de seu próprio “eu” enquanto sujeito, e por essa razão torna-se plausível que ele busque “fora”’ da rede protetora (família) subsídios para saciar esse intento. Dessa forma, os amigos nessa hora representam peças fundamentais nesse processo, haja vista que por meio dessa interação o jovem exercita seu verdadeiro papel social e se identifica com comportamentos e valores a partir da convivência com o outro.
Como justificativa da afirmativa em questão, retomemos ao posicionamento do autor em referência: uma das características que mais “afloram” na fase da adolescência é a ambivalência de atitudes e sentimentos, fato resultante da riqueza afetiva e da capacidade imaginativa que traduzem o desequilíbrio interior – demonstrado em diversas tomadas de atitude. Segundo Wallon, essa mesma ambivalência faz surgir a necessidade de conquista, independência, de surpreender a si próprio e de se unir a outros jovens com os mesmos ideais.
Mediante tais pressupostos, sobretudo em se tratando da formação dos grupos, vale atentarmos para os aspectos negativos que surgem em decorrência dessa, pois, frente ao temor de se sentir sozinho, o jovem passa a adotar regras e comportamentos coletivos, sem que para isso necessite questioná-los. Como bem nos afirma Francisco Assumpção, psiquiatra e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP):
“Ao mesmo tempo em que anseiam pela identidade própria, eles percebem que ser igual a todo mundo é a saída mais segura para não se expor e perder a aprovação”.
Como exemplo disso podemos citar o caso de um determinado grupo ridicularizar alguém pelas atitudes, como por exemplo, por fazer perguntas excessivas, destacando-se como o “nerd” da sala. Ao se sentirem incomodados, resolvem exprimir certo preconceito, e isso pode acabar ocasionando reprimendas e até se transformando no temível bullying.
Em face dessa ocorrência é essencial que o educador utilize alguns artifícios, tais como a observação em torno de quais ideias e valores os grupos se reúnem, no intuito de incentivar boas práticas e aproveitar temas relacionados à realidade dos alunos, além de pôr em xeque questões pertinentes, fazendo-os reconhecer a responsabilidade de seus atos – devendo essa ser sempre discutida e partilhada com todo o grupo.
Outra questão muito importante diz respeito à consolidação do que é ser homem e mulher na sociedade vigente, pois em meio ao já citado afastamento dos pais em busca de novas referências, sendo essas masculinas e femininas, o adolescente procura seus iguais para entender a conduta que regem essas relações de convivência. Nesse sentido, é importante a atuação do professor frente a tais relações entre gêneros, no intuito de fazer com que os jovens, por meio de reflexões, passem a elaborar seus próprios conceitos, renegando assim posições por vezes consolidadas e estereotipadas ao longo do tempo.
Atitudes como essas passam a evitar eventuais rotulações e permitem com que todo o grupo passe a refletir acerca de suas próprias responsabilidades. Na família, o jovem precisa receber a devida atenção, ser respeitado e valorizado, fazendo sempre prevalecer o desenvolvimento de uma personalidade autônoma e consciente.
Fonte: Por Vânia Duarte, Graduada em Letras, Equipe Brasil Escola