A pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) tem provocado mudanças em alguns hábitos e costumes de grande parte da população. Um deles está relacionado ao convívio familiar: pais, mães e filhos que antes realizavam atividades a partir de suas próprias rotinas, agora precisam se adaptar com a aproximação imposta pelo isolamento social. Mas o que essa proximidade da quarentena pode estar ocasionando?
De acordo com a professora do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dra. Susana König Luz, o impacto nas famílias vai além do conviver por mais tempo juntos. “Há famílias tendo que se reorganizar financeiramente, perdendo empregos, não sabendo se vão tê-los novamente. Tudo isso traz uma avalanche de emoções e pensamentos desastrosos nos indivíduos e, consequentemente, nas famílias. A saúde familiar está ameaçada em seu cerne, em sua sobrevivência”, relata.
A docente menciona algumas configurações familiares envolvidas neste contexto que, de certa forma, vivenciam tais mudanças. “Uma minoria da população tem acesso aos meios de comunicação e aos espaços virtuais. Uma minoria das famílias pode fazer o isolamento social, pois tem que trabalhar (se ainda tiver emprego) para garantir o sustento da sua família. Em outro cenário, temos as famílias que sim, conseguem trabalhar em casa, não tiveram redução de salário e estão aproveitando para se aproximar, viver momentos que antes, por conta de uma rotina exaustiva, não era permitido. E temos ainda as famílias hospedeiras, que tinham o lar somente para dormir. Esse momento é desafiador para elas, pois não estão acostumadas a conviver. Como podemos observar, temos vários impactos acontecendo e vários cenários. Não podemos falar somente de um impacto, pois eles são diversos”, destaca Susana, lembrando que o isolamento social ainda é fundamental para a contenção da pandemia da Covid-19.
Mais respeito, diálogo e organização
Uma dica que a professora dá para as famílias terem uma convivência saudável e harmônica é manter o diálogo e o respeito. “Este é o grande desafio. Os conflitos familiares já existentes tendem a tornar-se maiores. O que antes era ‘apenas a toalha em cima da cama’ ou o ‘tênis fora do lugar’, hoje pode ganhar dimensões e discussões exacerbadas. O ritmo dos membros da família não é o mesmo. O que deve ser feito é tentar manter o diálogo e o respeito. Talvez a harmonia seja algo utópico, pois sabemos que os índices de violência doméstica aumentaram, bem como os índices de alcoolismo, por exemplo. Então, dizer o que fazer para ter uma convivência saudável e harmoniosa vai além de palavras. Precisa de gestos, respeito, tolerância e, acima de tudo, vontade de permanecer juntos”, afirma Susana.
A organização também é uma aliada para o bom convívio familiar. “É preciso manter a mesma rotina de antes, estabelecendo horários e, principalmente, respeitando-os. Se a família, antes da pandemia, não tinha o hábito de jantar todos juntos por exemplo, não é agora, no isolamento, que isso vai começar a acontecer. Procurar respeitar os horários de trabalho em casa, os horários de conversas em família, os horários para ficar com os filhos. O ficar junto não é o problema, a questão é o excesso e ou o distanciamento”, conta.
Além das atividades ligadas ao trabalho e ao estudo, é importante ter momentos de lazer e diversão neste período de quarentena. “Segundo o que temos escutado, a Netflix tem sido a verdadeira salvação nestes tempos de isolamento. Mas nem todos tem acesso ao serviço de streaming. É inevitável que em alguns momentos as pessoas queiram ficar sozinhas, mesmo estando juntas. Assim, pode ser muito útil um trabalho manual, uma leitura, uma comida diferente. Chamar a família para a cozinha tem sido uma ótima opção. Jogos com os filhos pequenos, conversas sobre as aulas dos filhos que estão tendo que estudar remotamente também. Estamos falando de uma infinidade de possibilidades, mas novamente destaco que a família deve querer esta aproximação. Tem famílias que não querem, que não tinham uma aproximação antes da pandemia e que não querem começar agora, e está tudo bem. O importante é respeitar o momento de cada um”, pontua Susana, complementando que se tem falado muito na saúde da família, mas que há ainda pessoas sozinhas passando pelo quarentena. “Como elas estão? Será que alguma coisa mudou?”, questiona.
Fonte: Notícias UFP